27/05/2010

eu penso que... eu acho que...

Uma das introduções a "estudos teológicos de banco de igreja" mais comuns que costumo ouvir no meio evagelico é "eu penso que" ou sua variante irresoluta "eu acho que". Trata-se de um grave sintoma de distanciamento da Palavra e pode indicar ali um forte candidato as mais estapafúrdias crendices e práticas sincréticas dentro da igreja.

Obviamente, lendo a Palavra de Deus, vemos o apóstolo Paulo em várias ocasiões fazer o uso do "penso que". No entanto não é deste uso a que estou me referindo, mas sim daquele que contraria a Palavra de Deus dando às minhas palavras os mesmo poder contido naquelas palavras de Poder. Pensar não é o problema. E como "eu penso", pensar é um dom de Deus, pouco utilizado e desenvolvido no nosso meio é verdade.

O apóstolo Pedro escreveu fundamentado não em sua sabedoria, mas naquela advinda do alto o seguinte:

"Porque Toda a carne é como a erva, E toda a glória do homem como a flor da erva. Secou-se a erva, e caiu a sua flor; Mas a palavra do Senhor permanece para sempre." (1 Pe 1.24-25)

O apóstolo Pedro não temia que suas palavras não chegassem ao destino, pois sabia que toda sua eloqüência assim como sua carne eram semelhantes a erva, temporais. O que permaneceria seria a Palavra de Deus, pois Ele não muda, é eterno (Tg 1.17).

O que aconteceu é que a experiência pessoal extra-bíblica tornou-se o norte do "crentinismo"  contemporâneo. Servir e seguir os prórios pensamentos e achismos, ser guiado pelas próprias verdades eivadas dos vícios mundanos que trazem consigo quando supostamente aceitam a Cristo e o novo "rosa" da moda cristã.

A Bíblia é para estes um livro que afasta-se da realidade e é impraticável no cotidiano. Contudo, fazer tal afirmação, mesmo para estes incircuncisos, é o mesmo que "blasfemar" contra o Espírito, então, substituem a assertiva para: A Bíblia é de difícil compreensão.

Mentira. E como todo praticante da mentira sois filhos de satanás a quem procurais agradar, procurando agradarem sempre a si mesmos. (Jo 8.44)

Acontece que a Palavra de Deus não é de difícil interpretação. Pelo menos não para os verdadeiramente salvos. Pedro não era nenhum homem versado em palavra. Tiago, João, Judas... nenhum deles possuia estudos avançados... quanto a Paulo, ele mesmo afirma que suas palavras não firmavam-se em sabedoria humana, mas no Poder de Deus (1 Co 2.1-5).

Ao dizer o que eu "acho", ou o que eu "penso", exponho minha fraqueza, minha incredulidade, minha falta de fé... pois não confio plenamente na Palavra de Deus para dizer: A Palavra afirma o seguinte... pois estes que freqüentemente fazem uso dessas expressões não conseguem ver na Bíblia uma afirmação, um lugar sólido para construir a sua vida. Ela pode ser todo o resto, de livro de receitas mágicas a enciclopédia histórica do povo israelita.

Aqueles que negligenciam a leitura da Palavra de Deus procuram esquivar-se da prática advinda de sua leitura. Como se fosse possível, tentam enganar a morte. Entendem tão somente a Bíblia como fonte de "acusação" ou "absolvição", não conseguem compreender que ela é as duas coisas. Por meio dela vejo minha condição e em suas palavras tenho a redenção (Jo 5.39). ela é fonte de vida não de morte... o que é incompreensível para aqueles que ainda não morreram pois acreditam estarem vivos. Na verdade alguns acreditam até mesmo serem eternos.

A compreensão da Palavra de Deus passa pela cruz, passa pela morte e ressurreição. E isso não é algo que eu pense ou acredite... Essa é a Palavra de Deus. Loucura para os que se perdem... mas só para os que se perdem.

Daniel Clós Cesar

18/05/2010

esta bola é minha!

"E, na verdade, tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de todas estas coisas, e as considero como esterco, para que possa ganhar a Cristo."  (Fp 3.8)

Apóstolo Paulo em carta a Igreja em Filipos

Tento sempre pensar em Paulo enquanto escrevia nesta mesma carta aos irmãos que congregavam em Filipos: "...eu me glorie de que não corri em vão, nem me esforcei inutilmente" (Fp 2.16). É isso que me leva a escrever. Não minha esperança no mundo... ou na igreja institucionalizada. Mas que em nada serei envergonhado, pois prego a Palavra de Deus, ainda que ela seja apenas uma folhinha que sai da terra e  ainda não tenha se feito uma árvore em minha vida.

Deus já havia levado tudo de Paulo. Ele sentia isso em seu íntimo e nas marcas que levava consigo, apesar de não considerar ter alcançado a perfeição (Fp 3.12), tinha certeza do caminho de novidade espiritual em que vivia.

Na minha ainda pequena experiência como escravo do amor de Deus tenho percebido, assim como apóstolo Paulo entendeu e nele me espelho, Eu fui conquistado por Cristo Jesus! (Fp 3.12)  Não o contrário.

Quero introduzir aqui um trecho de uma música da banda estadunidense Third Day, escrita por Mark Lee, baterista da banda, que diz mais ou menos o seguinte (tradução minha):

"Leve tudo pois não suporto mais, 
Tudo o que tenho... 
Leve o primeiro, leve o último, 
Leve o bom, leve o resto... 
Tudo o que tenho, 
Leve tudo".

Resistir à Salvação tem sido a mais depravada atitude dos nominalmente cristãos. Ainda que afirmem serem salvos, são no entanto rebeldes e revoltados contra o Senhor. Não desejam a Salvação tal qual é proposta por Cristo,  mas sim como ela é proposta por satanás.

Ainda tomados de uma mente degenerada que em nada se parece com a mente de alguém que teve seu interior transformado pela atuação regeneradora do Espírito Santo, têm seus planos, sonhos, alvos e propósitos como superiores ao conhecimento de Cristo... superiores ao Ganhar a Cristo. Mais triste ainda, tais blasfemos tem o mundo como um lar, quando a Palavra afirma que não passamos de estrangeiros nessa terra (Fp 3.20).

Paulo abriu mão de sua posição social, seus títulos e toda sua promissora carreira político-eclesiástica por algo muito maior, algo que ele considerou sua verdadeira vocação... soberana vocação (Fp 3.14). Por isto ele abriu mão de sua própria vida (Fp 1.21). Ao mesmo tempo vejo pessoas que confessam o mesmo Cristo de Paulo, mas não o desejam da mesma forma. Querem casar antes da volta de Cristo (leia-se fazer sexo sem sentir culpa), querem ter uma casa própria antes da Sua volta... alguns ousam orar para que Deus retarde a volta do Filho... pois ainda não são plenamente alegres e satisfeitos. O mundo ainda não lhes deu tudo... eles ainda merecem um pouco mais, pois este mundo lhes deve alguma coisa em troca de suas dores e lutas.

Pobres imundos! Trocam migalhas corrompidas pela Glória do Todo Poderoso. Trocam a Verdadeira comida e bebida por alimento imundo cozido em esterco humano. Fazem como os besouros (invertebrados sem nenhuma sabedoria), se necessário lutam até a morte pela sua bola de cocô. Lutam pelas coisas que o mundo os oferece com ganância e ambição mas "buscam" a Cristo como se prestassem homenagem a um morto que não pode ver as flores de plástico e o vaso com a tinta descascada sendo depositado em seu tímido túmulo de azulejos rotos. Como os besouros, passam suas vidas rolando seu monturo.

Os vejo até cantar em suas canções antropocêntricas e em suas orações bajuladoras mas sem nenhuma expressão do Espírito:

Não por favor Deus... Não me deixe sem nada! Deixe este monturo te peço!  Não! Eu determino! Deixe este monturo... é só o resto mas é meu... deixe apenas isso... eu posso te servir ainda sim, isto em nada me atrapalha... veja só como eu consigo carregar todo esse monte de esterco enquanto converso contigo... Veja... eu nem preciso de ti para isso... remova o "principal"... remova as dores que este monturo me causa... destrone o inimigo que habita no monturo... limpe-me desse cheiro repugnante causado por este esterco... mas por favor! Não o tire de mim.

O que para um verdadeiro escravo de Deus é considerado perda, para estes é lucro. É a própria vida. Acreditam que se morrerem sem obter a "vitória", passarão uma eternidade lamentando. Miseráveis! O que lamentarão eternamente será isso: terem desejado a sopa de restolho preparada por satanás e seu guisado de sangue sufocado cozido no inferno. Lamentarão terem rejeitado o Pão que desceu do Céu e o Vinho que devia ser bebido em ação de graças.

Amados, seja nosso desejo constante perder tudo para ganhar apenas Jesus Cristo.

Daniel Clós Cesar

12/05/2010

para matar o orgulho

"O Senhor odeia os orgulhosos de coração. Sem dúvida serão punidos."1

Um provérbio como esse incomoda o mais puritano frei em clausura. Em parte porque os cristãos, ou melhor, os crentes, acreditam que Deus apenas "ama" e portanto, não pode odiar. Primeiro, Deus não ama, Ele é o próprio Amor e em segundo lugar sim, Ele sente ódio, ou alguém acha que ele nutre simpatia pelo pecado e pelo pai da mentira? Tudo o que vai contra a Sua natureza Santa é por Ele odiado. Você pode ou não concordar comigo, sinceramente, não me importo. É sobre meu orgulho que vou escrever e não sobre o seu.

Nascido num lar quase cristão (meu pai não era convertido na minha infância), batizado nas águas aos 11 anos de idade (e diga-se de passagem sem entendimento algum do que era aquilo), converti-me aos 16 anos em um retiro para jovens, na mesma fase da vida em que a única coisa que realmente me importava era quando tudo aquilo iria acabar... não o retiro, mas minha detestável vida. Entre os 18 e 26 anos experimentei todo esse alimento "sobrenatural", rico em esquizofrenia e extremamente pobre em Palavra e Poder. Aos 27 anos embarquei para o Timor-Leste como professor de História mas também como servo do Senhor, conheci um verdadeiro campo missionário e não uma Disney para crentes de classe média sem oportunidades no Brasil. Com quase 29 anos, já no Brasil, assisti um vídeo com a pregação do Pr. Paul Washer. Quase uma hora de pregação e nenhum grito, nenhum aleluia e na única vez em que foi aplaudido repreendeu a massa com uma autoridade que faria Nikita Krushev ruborizar.

O que havia de diferente naquele homem? Sinceramente... ao analisar bem aquela pregação ele não era diferente de Elias, não mesmo... era sujeito aos mesmos pecados do profeta arrebatado. A diferença  que vi em relação a grande maioria dos pregadores contemporâneos estava em sua pregação. Eu vi a Palavra de Deus sendo exposta e não a história ou a experiência orgulhosa de um homem.

Naquele dia compreendi que não era convertido a nada senão à meu próprio ventre. um deus ridiculamente preservado por mim para minha própria condenação. Toda minha espiritualidade girava em torno do meu umbigo. Orgulhava-me de ter um conhecimento razoável sobre Deus e convencer-me de um erro era uma tarefa para Hércules. Ainda naquele dia vi meu ventre se abrir e expor toda minha podridão. O trabalho de uma vida sendo desfeito em poucos minutos. Meu orgulho de conhecer algo sobre Deus não passava de conhecimento da letra e nisso, qualquer fariseu era melhor do que eu. Quanto a Hércules, não foi ele que Deus usou, mas Seu próprio Espírito Santo.

Um soldade inglês da Primeira Guerra Mundial reescreveu a sacrifício de Isaque. No final de sua "nova" história ele escreveu. "A Europa, ao invés de sacrificar o Cordeiro-Orgulho, sacrificou seus próprios filhos". O que vemos hoje na igreja de Cristo como feridas expostas e chagas incuráveis? O orgulho de pessoas que não aceitam a repreensão pois não querem ver seus ventres abertos e exposta toda sua prole de pecados. Preferem sacrificar sua própria vida a enviando para o inferno do que mandar aquele "bode" criado com tanto esmero.

O que eu enxergo hoje: Pastores que por mais bem intensionados que estejam preferem vociferar suas experiências pessoais com bastante orgulho à expor a Palavra de Deus, que sem dúvida alguma foi inspirada pelo Espírito Santo. Também vejo pastores que expõe a Palavra e buscam usar o púlpito como um verdadeiro altar de adoração, no entanto suas ovelhas estão mais preocupadas com a hora com que o culto vai terminar pois querem chegar em casa e aquecer a janta, pois o pão espiritual não é nada para elas.

Constantemente luto contra esse alfinete em minha carne, que às vezes parece ser um espinho... mas seria ousadia minha dizer que o que passo é semelhante ao que passou aquele que levou a cruz por mim. A cada dia tento fazer minha as palavra do rei Davi, para que um dia eu possa ver o Rei dos Reis e Senhor da Glória.

"Senhor o meu coração não é orgulhoso e os meus olhos não são arrogantes. Não ando a procura de grandes coisas, nem de coisas maravilhosas demais para mim."2

Que um dia eu possa ver meu orgulho totalmente aniquilado e enterrado e possa ler não mais o meu texto... mas o seu.

Daniel Clós Cesar

1. Provérvbios 16.5
2. Salmos 131.1