14/12/2009

A igreja é um hospital, mas Deus não o quer uma vida inteira no estado de coma


"Pois, com efeito, quando devíeis ser mestres, já passado o tempo necessário, tendes, novamente, necessidade de alguém que vos ensine, de novo, quais são os princípios elementares dos oráculos de Deus; assim, vos tornastes como necessitados de leite e não de alimento sólido."

No grupo de estudo, em que pela graça, e só por ela, sirvo, estudamos um pouco desta palavra na última sexta-feira. O assunto era "Compromisso com a Palavra" e alguém leu este texto, que está escrito no capítulo 5 do livro de Hebreus. Me chama atenção o fato de que quando o autor deste texto está no ápice de seu discurso, discorrendo sobre o sacerdócio de Cristo, ele se vê obrigado a interromper o ensino para repreender seus leitores.

Encaixa-se perfeitamente ao nosso presente tempo o texto com quase 2 mil anos. Dentro de nossas igrejas sobram pastores despreparados, ovelhas ignorantes (bíblica e espiritualmente falando), músicos egocêntricos, líderes autoritários e liderados rebeldes; também não são raros, pelo contrário, são a esmagadora maioria, crianças e adolescentes espirituais que ocupam os bancos das igrejas como se fosse uma sala de cinema onde passa um filme repleto de efeitos especiais... ávidas por um leitinho morno.

Os poucos pastores que ainda ousam preparar um prato de comida quente, ao invés de servir um simples copo de leite nem mesmo adoçado, são tratados como chatos, legalistas, espalhadores e impopulares. Sim, a atual igreja deseja ardentemente leite... e pode ser do tipo C, não precisa pasteurizar, ela não se importa com as bactérias satânicas que se reproduzem nesse leite azedo e tépido que tem sido a pregação contemporânea para as massas.

Tais crentes não querem ouvir sobre salvação, sobre sacrifício, sobre cruz, sobre ser escravo de Cristo, julgam-se doutos em matéria elementar do evangelho, mas são estúpidos... a Palavra não está em nenhum lugar de seus corações ou de suas mentes... sobejam-lhes chavões, arrotam "palavras proféticas" e vomitam "determinações espirituais" mas não conseguem discernir o torto do reto, o esquerdo do direito... a escuridão da luz.

Porque deste pensamento escrito? Bem, essa semana li um texto no blog Voltemos ao Evangelho, onde os autores tentam abrir os olhos de alguém com uma dessas interpretações infantis mas que acredita saber alguma coisa quando não passa de uma criança... alguém que condena o Pr. John Marcartur de tolo por pregar o "Ser Escravo de Deus". Não dúvido ser  este mesmo alguém que engrandece, aplaude e dá pulinhos de alegria ao leitinho vendido por homens como Cerullo e Hinn. Também não muito tempo atrás, li comentários à palavra de um pastor de minha igreja, onde o "comentarista" questionava uma contradição em ser livre e escravo na Bíblia. Sim meus amados, auto-proclamados cristãos conseguem encontrar contradições na Palavra de Deus... Pergunto a vós outros: será que eles realmente sabem o que estão fazendo, dizendo e pensando?

Vejamos, você pode pensar, pelo que leu até agora, que sou intolerante com as crianças... mas o que penso é o seguinte: todo aquele que é nascido de Deus, nasce criança, deve então ser cuidado e amamentado com o puro leite espiritual para que cresça em virtude e sabedoria (paráfrase de 1 Pe 2.2)... escrevo como o autor de Hebreus, escrevo para àqueles, que já devendo ser mestres, ainda são crianças. Escrevo para quem não pode ainda ouvir sobre escravidão porque ainda não entendeu o que é ser livre. Um princípio elementar do evangelho de Cristo.

Dentro de nossas igrejas pessoas completam décadas de banco, algumas chegam a cargos de liderança... são "levitas(?)", porteiros, diáconos ou sei-mais-lá-o-que dentro desse universo de ministérios misteriosos criados na igreja brasileira, e ainda são bebês na fé... não são mestres, quando já deviam ser.

Para Timóteo, Paulo escreveu o seguinte: "Procura te apresentar como obreiro aprovado que maneja (conhece, pratica, entende) bem a Palavra..." (2 Tm 2.15). Isso no entanto está longe da realidade do cristianismo contemporâneo, o que vemos são meninos e não homens... pequenos trombadinhas e não soldados capacitados para o combate. Uma noiva que não é noiva, mas tem se comportado mais como prostituta, indo atrás de quem paga mais por seus serviços... ou ainda, como escreveu o profeta Ezequiel (16.33), a respeito de Israel naqueles anos e a quem hoje a igreja se assemelha, é pior que a prostituta, pois esta recebe pelo seu trabalho, a igreja de hoje, como o Israel dos tempos de Ezequiel, paga para ser adúltera.

Não vemos pessoas com tempo para a Palavra de Deus, não vemos jovens com tempo para a Conhecer a Deus, vemos sim homens, mulheres, jovens e crianças, com tempo para o entretenimento promovido no interior de templos, no cume de morros e em volta de fogueiras... tudo para beber mais do leite tíbio oferecido nesses púlpitos caídos mantidos por esses sacerdócios derrocados.

Deixemos o leite para as crianças... preguemos um evangelho simples para os bebês, pois é disso que eles necessitam... mas quanto a nós, vivamos uma verdade profunda, preparada com muito tempero e de longa digestão... comida servida apenas a guerreiros e não do mesmo prato servido aos doentes.

A igreja é um hospital, mas Deus não o quer uma vida inteira no estado de coma.

autor: Daniel Clós

02/12/2009

vós sois o sal, não o docinho

alimentando as ovelhas ou divertindo os bodes?

Existe um mal entre os que professam pertencer aos arraiais de Cristo, um mal tão grosseiro em sua imprudência, que a maioria dos que possuem pouca visão espiritual dificilmente deixará de perceber. Durante as últimas décadas, esse mal tem se desenvolvido em proporções anormais. Tem agido como o fermento, até que toda a massa fique levedada. O diabo raramente criou algo mais perspicaz do que sugerir à igreja que sua missão consiste em prover entretenimento para as pessoas, tendo em vista ganhá-las para Cristo. A igreja abandonou a pregação ousada, como a dos puritanos; em seguida, ela gradualmente amenizou seu testemunho; depois, passou a aceitar e justificar as frivolidades que estavam em voga no mundo, e no passo seguinte, começou a tolerá-las em suas fronteiras; agora, a igreja as adotou sob o pretexto de ganhar as multidões. 

Minha primeira contenção é esta: as Escrituras não afirmam, em nenhuma de suas passagens, que prover entretenimento para as pessoas é uma função da igreja. Se esta é uma obra cristã, por que o Senhor Jesus não falou sobre ela? “Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura” (Mc 16.15) — isso é bastante claro. Se Ele tivesse acrescentado: “E oferecei entretenimento para aqueles que não gostam do evangelho”, assim teria acontecido. No entanto, tais palavras não se encontram na Bíblia. Sequer ocorreram à mente do Senhor Jesus. E mais: “Ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres” (Ef 4.11). Onde aparecem nesse versículo os que providenciariam entretenimento? O Espírito Santo silenciou a respeito deles. Os profetas foram perseguidos porque divertiam as pessoas ou porque recusavam-se a fazê-lo? Os concertos de música não têm um rol de mártires.

Novamente, prover entretenimento está em direto antagonismo ao ensino e à vida de Cristo e de seus apóstolos. Qual era a atitude da igreja em relação ao mundo? “Vós sois o sal”, não o “docinho”, algo que o mundo desprezará. Pungente e curta foi a afirmação de nosso Senhor: “Deixa aos mortos o sepultar os seus próprios mortos” (Lc 9.60). Ele estava falando com terrível seriedade!

Se Cristo houvesse introduzido mais elementos brilhantes e agradáveis em seu ministério, teria sido mais popular em seus resultados, porque seus ensinos eram perscrutadores. Não O vejo dizendo: “Pedro, vá atrás do povo e diga-lhe que teremos um culto diferente amanhã, algo atraente e breve, com pouca pregação. Teremos uma noite agradável para as pessoas. Diga-lhes que com certeza realizaremos esse tipo de culto. Vá logo, Pedro, temos de ganhar as pessoas de alguma maneira!” Jesus teve compaixão dos pecadores, lamentou e chorou por eles, mas nunca procurou diverti-los. Em vão, pesquisaremos as cartas do Novo Testamento a fim de encontrar qualquer indício de um evangelho de entretenimento. A mensagem das cartas é: “Retirai-vos, separai-vos e purificai-vos!” Qualquer coisa que tinha a aparência de brincadeira evidentemente foi deixado fora das cartas. Os apóstolos tinham confiança irrestrita no evangelho e não utilizavam outros instrumentos. Depois que Pedro e João foram encarcerados por pregarem o evangelho, a igreja se reuniu para orar, mas não suplicaram: “Senhor, concede aos teus servos que, por meio do prudente e discriminado uso da recreação legítima, mostremos a essas pessoas quão felizes nós somos”. Eles não pararam de pregar a Cristo, por isso não tinham tempo para arranjar entretenimento para seus ouvintes. Espalhados por causa da perseguição, foram a muitos lugares pregando o evangelho. Eles “transtornaram o mundo”. Essa é a única diferença! Senhor, limpe a igreja de todo o lixo e baboseira que o diabo impôs sobre ela e traga-nos de volta aos métodos dos apóstolos.

Por último, a missão de prover entretenimento falha em conseguir os resultados desejados. Causa danos entre os novos convertidos. Permitam que falem os negligentes e zombadores, que foram alcançados por um evangelho parcial; que falem os cansados e oprimidos que buscaram paz através de um concerto musical. Levante-se e fale o alcoólatra para quem o entretenimento na forma de drama foi um elo no processo de sua conversão! A resposta é óbvia: a missão de prover entretenimento não produz convertidos verdadeiros. A necessidade atual para o ministro do evangelho é uma instrução bíblica fiel, bem como ardente espiritualidade; uma resulta da outra, assim como o fruto procede da raiz. A necessidade de nossa época é a doutrina bíblica, entendida e experimentada de tal modo, que produz devoção verdadeira no íntimo dos convertidos.

autor: C. H. Spurgeon
copiado de: Voltemos ao Evangelho

Certamente, ao ler o texto acima (isso se você consegue ler mais que 2 versículos diariamente, a maioria dos crentes que conheço não consegue achar o livro de Amós, pois começam procurando no Novo Testamento), você, mais desavisado, ou melhor, menos informado, pois o único pastor "cheio" de poder que você conhece é aquele que dá "uma nova unção" ou um "novo desafio"... ou mesmo um "nova campanha" a cada semana para você, ao ler esse texto vai dizer que foi escrito por um "legalista" que repudia novos movimentos dentro do evangelho santo de Deus... talvez até ache que é alguém que critica o seu pastor, um difusor de uma Igreja 2.0  "radical e extravagante, inundada por um rio pegando fogo, transbordando dessa alegria passageira e mundana"... talvez você pense isso. 

No entanto, Charles Spurgeon, o autor deste texto, morreu no ano de 1892, quando ainda não tinhamos internet, não tinhamos televisores, DVD, prêmio da música gospel ou unções do tipo: unção do empresário, unção dos quatro seres da dança profética, e por aí vai... sim, esse cara achava aquelas coisas que você acha hoje infantis (entretenimento de criança) como algo satânico entrando na igreja.

Você talvez agora esteja a pensar... "eu sabia, era mesmo um legalista". Pois bem, diferente dos pastores de hoje que se (auto)-denominam "Apóstolos", "Bispos", "Profetas", "Profeta de Profetas" e até de "Anjos", Spurgeon recebeu apenas (de outros homens, não dele mesmo) o singelo apelido de "Príncipe dos Pregadores" o que não fez ele mudar sua titulação eclesiástica... ele morreu pastor, não apóstolo.

Acontece que hoje o mais importante é você ter um "bom grupo de jovens" do que ter em sua comunidade cristã jovens sem vergonha do evangelho puro e simples e altamente capacitados no manejo da Palavra (2 Tm 2.15)... o que temos hoje são apenas grupos de jovens que seguem semelhantemente a como eram antes de "conhecer" a Cristo, mudaram apenas algumas práticas, não o coração... tire-lhes a dança, tire-lhes a música, tire-lhes a entretenimento... deixe-lhes tão somente com a Palavra e verão que poucos, pouquíssimos na verdade, permanecem.

É simplesmente triste... muito triste... saber que a igreja hoje é pior que a igreja de 100 anos, é triste ver gente chamando isso que acontece hoje de avivamento, quando estão todos mortos em suas carcaças que balançam ao som de músicas ditas gospel e de moveres do espírito quando não há palavras do Espírito mas apenas gemidos... é triste ver uma igreja que desconhece a Palavra de Deus (com traduções em Português e vendidas a preços módicos quando não gratuitas) mas conhece todo tipo de "unção", "ministério" e "estratégia" para evangelizar. Jovens, adolescentes e adultos que sabem nomes de demônios, e até os temem mais do que a Deus, pois não conhecem o poder que há nesse nome nem no poder que há no nome de Seu Filho. 

Uma igreja que sabe tão somente "dançar profeticamente e muito mal", "determinar apostolicamente e muito mal" e "cantar leviticamente e muito mal"... é lamentável. Sim... é lamentável.

Maranata Jesus! 

autor: Daniel Clós

01/12/2009

na frente de batalha - dez/09

Vou aproveitar o primeiro post de cada mês para indicar 2 bons blogs de defesa do evangelho. Obviamente não concordo com tudo que é publicado nestes veículos, mas o mais importante para mim é que não são defensores denominacionais e tampouco são divulgadores de "teologias" controversas.


Criado por Ruy Marinho, este blog é uma estante de artigos e crônicas de vários outros blogs e sites, além claro, de textos do próprio editor. Foi no Bereianos onde publiquei meus primeiros textos. O blog Bereianos é um dos mais freqüentemente atualizados.


Blog com um grande acervo de vídeos com pregações legendadas de pastores como Paul Washer, Mark Driscoll e John Piper. O blog também disponibiliza traduções manuscritas de sermões de Charles Spurgeon, João Calvino e outros homens que mudaram o curso do cristianismo desde a Reforma.

Clique sobre o nome do blog para acessá-lo.